sábado, 12 de novembro de 2011

TIO JORGE

Conheci o tio Jorge a mais ou menos sete anos, logo que comecei a frequentar os almoços de domingo na casa de minha sogra. 
Em um desses domingos, tocou a campanhia, e entrou um senhor que aparentava uma idade avançada, andar lento, costas ligeiramente curvadas e olhar tímido. Logo soube que na maioria de muitos almoços domingueiros, a sobremesa era acompanhada pela visita desse senhor, que buscava um momento de lazer com seu irmão (meu saudoso sogro), para uma partida de gamão.
Nosso relacionamento era superficial, mas o marido sempre falava desse tio com palavras carinhosas, então minha simpatia por ele era certa.
Era percebível que sua saúde não era daquelas, mas apesar da idade avançada (93 anos), sua simpatia não diminuía.
Senhor quieto, voz rouca com tom baixo, transmitia algo diferente, algo que me encucava, mas não me permitia comentar qualquer julgamento.
Aos poucos, fiquei sabendo um pouco da estória desse homem, e então diferentes sentimentos me pegaram de surpresa, como indignação, pena e admiração.
A mais ou menos 60 anos atrás, meu sogro, juntamente com minha sogra resolveram sair do país de origem, o Líbano, para tentar a sorte no Brasil.
Chegando aqui, foram fincar seus pés em uma cidade aqui perto de Londrina. Logo depois o tio Jorge, mais velho que meu sogro, também veio e por aqui trabalhou, casou e teve dois filhos.
Seu casamento não deu certo, uma tragédia familiar abalou sua vida e nunca mais se casou. 
Sobre essa estória não me sinto à vontade para escrever, pois a tragédia foi tão intensa, que na época afetou toda a família e o assunto não é mais comentado entre eles, como se fosse algo proibido.
Resumindo, quero dizer que esse homem sofreu muito, e pelo resto de sua vida, trabalhou sem pausas em sua tradicional lojinha, ajudando filhos, netos e agregados. 
Logo que a Nicole nasceu, ele que tem sua lojinha instalada bem pertinho da loja de meu saudoso sogro (agora coordenada pelo meu marido), cobrava a visita de sua mais nova sobrinha, e quando isso aconteceu, esse homem mostrava tanta alegria e carinho por ela, que até o último momento em que a viu, ele pegava em sua mãozinha e ia com seus lábios trêmulos em forma de biquinho, bem lentamente tentar um beijinho na bochecha da bebê impaciente que inocentemente queria de todo modo escapar!
Esse tio Jorge é muito querido, tanto que foi o único tio que o marido convidou para o aniversário de  primeiro aninho da Nicole.
Hoje infelizmente, esse senhor está em coma no hospital, irreconhecível, pois se constitui somente de pele e osso! 
Aquele querido homem, conversando conosco, a mais de um mês atrás, contava sobre uma cirurgia que iria fazer, pois havia um aneurisma em seu cérebro, no qual estava prejudicando sua fala, e nós estávamos feliz por ele que resolveria mais um problema de saúde. Se despedindo daquele sorriso tímido foi a última vez que o via.
Faz mais de um mês que o tio Jorge está internado, e confesso que no começo rezei muito pedindo a Jesus que o curasse, mas as coisas não são como queremos, e contratempos acontecem, pela saúde frágil, idade avançada, e lugar extremamente infectado, o tio adquiriu algumas bactérias resistentes a antibióticos, e com o passar do tempo seus órgão não funcionam tão bem, e então estou tristemente rezando para que Jesus faça o que tem que ser feito logo, pois não quero vê-lo sofrer mais um segundo e se for para levá-lo, que o leve, mas rezo também para que o tio Jorge aceite isso, aceite Jesus em sua vida e seja feliz ao menos distante dessa vida terrena.
É triste rezar para isso, mas peço o melhor para esse homem tão querido, e que sofreu muito nessa passagem entre nós.





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